quinta-feira, 21 de maio de 2009

Cognição Social

A Cognição Social remete para a forma como a informação, de natureza social, que recebemos é percepcionada, tratada e interpretada cognitivamente pelos sujeitos, estando, assim, as teorias do desenvolvimento cognitivo de Piaget e da percepção social de Bruner (“new look”) na base deste constructo. Assim, a organização cognitiva diz respeito à maneira como organizamos as crenças que temos e estas, por sua vez, são um tipo de estereótipo, no sentido em que criamos “categorias” nas quais inserimos cada objecto (ex. pessoas, situações, etc.) e que determinam as nossas expectativas, comportamentos e julgamentos face a determinado estímulo. O Homem não é, nem pode ser, comparado a um computador, O HOMEM NÃO É HOMEM SEM INTERACÇÃO SOCIAL e os erros cognitivos e enviesamentos que cometemos devem-se, muitas vezes, a isso mesmo.
A Cognição Social assenta em cinco pressupostos básicos. O primeiro diz que o percipiente (sujeito) é um processador activo da informação/estímulos que recebe, atribuindo-lhe significado de acordo com as expectativas que se tem desse mesmo estímulo e da comparação com situações semelhantes já ocorridas. Com isto, o objectivo do sujeito é organizar cognitivamente o mundo que o rodeia e “controlar” mentalmente o que acontece diariamente, seleccionando a informação percepcionada que é mais significativa para ele e, posteriormente, simplificando-a sob a forma de esquemas mentais – scripts – categorização. Os scripts são vistos como um guia das nossas acções, isto é, são um auxílio, evocado sem darmos conta, de como devemos proceder perante determinado estímulo, dão-nos informação sobre possíveis características do novo estímulo, por comparação, e de como se poderá relacionar com outros. Os processos de categorização social – etiquetagem – dão-se através da comparação de diferenças e semelhanças (semelhanças = estímulos) de sujeitos (ex. pigmentação da pele, comportamentos, atitude face a uma qualquer temática, etc.), premissa base da hipótese central da Psicologia Cognitiva, economia cognitiva, segundo a qual se torna mais fácil lidar com a informação social. Todos estes processos de que falámos sofrem, obrigatoriamente, influências sociais.
Segundo Tajfel e Bruner, quando formamos categorias, tendencialmente, acentuamos as semelhanças da categoria à qual pertencemos e realçamos as diferenças nas outras, isto é, há um favorecimento do endogrupo e um desfavorecimento do exogrupo. A categorização, regra geral, prende-se ao princpio da economia de recursos cognitivos, em que as pessoas à medida que vão percepcionando os estímulos tendem a classificá-los de forma discreta e descontínua, mesmo quando estes são contínuos (ex. Pigmentação da pele – não existe apenas pessoas brancas e negras, mas é assim que as pessoas tendem a classificá-las), há uma dicotomização dos estímulos e reflexo dos valores sociais dos percipientes, agindo em conformidade com os “estereótipos sociais” da sua cultura.

Outros factores que levam à inclusão de estímulos em categorias sociocognitvas – etiquetagem – são: o estatuto primitivo das categorias, a influências das normas culturais e o princípio do metacontraste. O recurso a categorias primitivas diz respeito a etiquetas como a raça, primeira etiqueta a ser formada, género e idade, que, na cultura ocidental, são activadas automaticamente, e tendo subjacente um conjunto de características permite prever o comportamento das pessoas que nelas se encontram. A influência das normas culturais ajuda, por exemplo, a perceber porque recorremos mais a umas etiquetas do que a outras, como a raça, na qual, novamente para a cultura ocidental, surge por uma questão de preponderância numérica, na qual a dita raça branca está em vantagem porque faz parte da norma e pertence, por isso, à maioria, ou seja, a etiquetagem “vira-se” geralmente para o que difere do modelo normativo que se tem, para o que é diferente (ex. Se falarmos que o homem tal fez tal coisa partimos do princípio que o homem é branco). O princípio do metacontraste remete para o princípio da economia cognitiva, que visa a simplificação da informação cognitivamente, maximizando as diferenças intergrupais. Estes três pressupostos estão, de certa maneira, relacionados entre si.


Organização de Crenças Sociais – Protótipos e Exemplares

A organização de crenças pode ser feita através de protótipos ou de exemplares. A primeira organização, protótipica, parte do princípio de que as categorias estabelecidas não têm fronteiras delimitadas, mas sim fluidas, havendo clusters, que incluem um conjunto de atributos gerais e comportamentos típicos, representativos de uma categoria (Rosch) e, por isso, regidos pelo princípio de economia cognitiva, simplificando/sintetizando a quantidade de informação recebida de acordo com o grau de diferença e semelhança. Ainda dentro da organização em protótipos, esta pode ser feita verticalmente ou horizontalmente, na primeira quando a categoria inclui várias subcategorias e na segunda quando essas mesmas subcategorias são diferenciadas. Quando à segunda organização, diz respeito aos estereótipos criados com base em pessoas que conheço e com quem se tem alguma familiaridade, em exemplares específicos de uma determinada categoria.

As crenças que formamos não têm que ser estáticas e podem mudar através de: processos de mudança aleatória, que se dá quando membros típicos de uma determinada categoria se comportam de uma forma altamente contraesteotípica; gradualmente, quando à medida do tempo vamos conhecendo pessoas que fogem à normativa dessa categoria, até que alteramos as nossas representações; ou através da formação de subcategorias, que diz respeito à criação de excepções à regra, excepções ao estereótipo inicialmente formado.

Modelo do Continuum – Formação de Impressões

É preciso deixar claro, desde já, que modelo do Continuum a formação de impressões se refere a pessoas em específico e não a grupos sociais e que estas só surgem no caso de, por algum motivo, não conseguirmos colocar essa mesma pessoa numa categoria social geral e depende de três factores: se os atributos da pessoa em questão são facilmente ajustáveis às características típicas de uma determinada categoria social na memória do percipiente, se este dá maior atenção às individualidades do sujeito e se está motivado para pensar (maior motivação –> formação de impressões, menor motivação –> formação de estereótipos).
A passagem de uma categoria social para uma de cariz concreto não é assim tão simples e compreende seis fases: categorização imediata inicial, “grau de relevância pessoal do sujeito-alvo”, “centração em atributos adicionais da pessoa-alvo”, categorização confirmatória, re-categorização e formação da impressão individualizada. Numa primeira fase, categorização imediata inicial, por muito pouca informação que tenhamos, tendencialmente atribuímos uma pessoa a uma categoria, activando automaticamente pensamentos, atitudes, intenções de comportamentos e afectos a essa pessoa (ex. profissão, pigmentação da pele). Após a primeira fase segue-se o “grau de relevância pessoal do sujeito-alvo”, isto é, se o sujeio-alvo tiver relevância e despertar a atenção do percipiente poderá passar à fase seguinte, focando a sua atenção nas características específicas do sujeito (terceira fase), caso contrário é etiquetado e agregado a uma categoria geral. A quarta fase diz que, surgindo atributos adicionais, se estes são sólidos dá-se a confirmação categorial. Se não houver confirmação categorial e o percipiente continuar motivado, ocorre re-categorização através do estabelecimento de subcategorias, da evocação de um sujeito exemplar e compará-los, da comparação com o próprio ou formando uma nova categoria. Por fim, se o sujeito não é categorizável e o percipiente está motivado e tem tempo e recursos, vai avaliá-lo tendo em conta as suas características pessoas (idiossincrasias) e formará uma impressão totalmente individualizada.
EXERCÍCIOS (3)
Como é que secas a tua roupa?

Se estendes a roupa à moda antiga, és mais pobre, possuis menos habilitações literárias, a lentidão é o teu lema, não tens grandes ambições, menos necessidades de sucesso e competitividade. MAIS, se fores do sexo masculino e estenderes a roupa… és mais homossexual! Caso contrário, ou muito me engano, ou és extremamente atraente.

O que nos dizem a isto? Inacreditável, não é? Este estudo foi realizado com base nas respostas de 316 estudantes universitários, do sexo feminino e masculino.


Publicado por Pereira & Mota, 2009

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