sábado, 23 de maio de 2009

Atitudes

As perguntas vão soando conforme o sopro do vento e a multidão, enfurecida, lá vai respondendo. Não me atrevo a opinar. Prefiro ficar à janela a ver aquela gente a debitar ‘sim’ e ‘não’ de uma forma quase desmedida. Ouvem-se gritos, vêem-se expressões, mas as frases são na sua maioria imperceptíveis. Vêem-se cartazes, em letras grandes e cores de profeta: nenhum animal deve ser explorado para entretenimento do homem. As exibições de animais e os espectáculos que se sirvam de animais, são incompatíveis com a dignidade do animal (artigo 10º da Declaração Universal dos Direitos do Animal; afinal, quem é a Besta?; (...).
Fecho a janela, na tentativa de não me envolver no assunto, na tentativa de acreditar que ele não é real. Deito-me no sofá, ligo a TV e lá está o pobre do Animal a sobreviver aos olhares daquela gente que aplaude de pé por vivenciar, no dito Ser, tal angústia, aflição, sofrimento. Desligo enraivecida a televisão e, como que num acto de desespero, vou para a rua fazer parte daquela manifestação inundada de Gente Humana.

Inegavelmente, vemo-nos envolvidos a tomar uma posição sobre determinadas temáticas: favor ou contra a despenalização do aborto; favor ou contra de alimentos geneticamente modificados (transgénicos) ou, como no exemplo acima enunciado, favor ou contra às touradas. Porém, não existe propriamente uma opinião mais certa/verdadeira que outra: trata-se de um conjunto de valores, sentimentos, crenças, dogmas e experiências diferentes. No entanto, temáticas mais discutidas pelos media são, em regra, as mais difíceis de se virem a alterar. Está-se perante um conflito ao nível de opiniões que divergem por caminhos totalmente opostos e, quase inerente ao ser humano, está a vontade de difundir determinada posição ou mudar as opiniões das pessoas, quer de uma forma informal – envolvendo discussões entre amigos –, quer em campanhas públicas.

Mas, afinal, como se pode definir o conceito de atitude?

Parafraseando Eagl e Chaiken (1993), atitude é um constructo hipotético referente à «tendência psicológica que se expressa numa avaliação favorável de uma entidade específica». Ou, de uma forma mais simples, trata-se de predisposições para responder a determinada classe de estímulos com determinada classe de respostas (comportamentais) (Rosenberg & Hovland, 1960); predisposições para se adoptarem comportamentos – tendência para responder de forma favorável ou desfavorável a um objecto, pessoa, instituição ou acontecimento (Ajzen, 1980). Daí que se afirme: AS ATITUDES NÃO SÃO COMPORTAMENTOS.

A grande maioria dos autores considera que as atitudes são aprendidas e que, por isso, susceptíveis de se alterarem. Sendo sempre expressas através de um julgamento avaliativo face ao objecto atitudinal (e.g. despenalização do consumo de drogas – atitudes que envolvam este tema expressam-se de uma forma imediata, uma vez que é difícil manter uma posição neutra relativamente a uma tema tão debatido socialmente).
Rosenberg e Hovland (1960) propuseram o Modelo das Três Componentes como descrição da estrutura das atitudes (ver esquema abaixo – esquema 1).


Esquema 1 - Modelo (triárquico) das Três Componentes, Rosenberg e Hovland (1960).

De modo a tornar perceptível o esquema acima apresentado, que serviu de base para o desenvolvimento de uma série de investigações, podemos dizer que as atitudes cognitivas referem-se a pensamentos, ideias, opiniões, crenças que ligam o objecto de atitude aos seus atributos ou consequências, que exprimem uma avaliação +/- favorável.

As atitudes afectivas, por sua vez, aludem emoções e sentimentos provocados pelo objecto de atitude. E, finalizando, as atitudes comportamentais comportam comportamentos ou intenções comportamentais em que as atitudes se podem manifestar (e.g. se houver um abaixo assinado contra a despenalização do consumo de drogas não tenciono assinar).

Medição das atitudes

São várias as escalas que medem as atitudes, nomeadamente: a escala de Thurstone (1928) – apresentou limitações práticas (morosidade), metodológicas (trata-se de uma escala ordinal) e científicas (incapacidade dos juízes se abstraírem da sua posição individual); Escala de Likert (1932) – apresenta-se vantajosa porque é económica ao nível dos recursos (e.g. tempo) e fácil de construir, dando mais garantias relativamente às propriedades métricas, no entanto, as suas limitaçoes residem no facto de se tratar de uma escala ordinal, e não intervalar, sendo que o carácter radical das afirmações promove a sua desadequação face às mutações sociais; Escala de Gutman (1944) – fácil de cotar as respostas e possibilita a ordenação simultânea de pessoas e estímulos em torno de uma mesma dimensão, no entanto, a sua aplicação é restrita a algumas temáticas, inclui poucos itens, sendo difícil criar uma escala perfeitamente cumulativa provoca reacções negativas por parte dos respondentes; Escala de Osgood e colaboradores (1957) – os mesmos adjectivos servem para medir diferentes objectos atitudinais permitindo, assim, a comparação entre estes, no entanto, é uma escala que tem como limitações a assunção de que os adjectivos têm o mesmo significado para todas as pessoas é contraditória com as premissas gerais do método proposto pelo autor e, ainda, a descontextualização da avaliação do objecto atitudinal; Fishbein e Ajzen (1980).

1) Medição das atitudes através de respostas cognitivas;
2) Medição das atitudes através de respostas afectivas/psicofisiológicas (implícitas);
3) Medição das atitudes através de respostas comportamentais (explícitas):
As técnicas comportamentais mais importantes neste domínio referem-se a observações de comportamentos reveladores de atitudes, mas, no entanto, são observações que não passam completamente despercebidas aos sujeitos. No entanto, apesar de ser considerada, na medição das atitudes, como a forma mais próxima da realidade, estas medições não se encontram isentas de sofrerem influências, uma vez que a relação entre o comportamento do sujeito e a inferência da sua atitude é deixada ao encargo do experimentador.

As funções das atitudes

Ao entrarmos no capítulo das funções que as atitudes suportam, a pergunta a reter é: para que servem as atitudes? E para responder a esta questão podemos entrar por quatro caminhos possíveis que iremos, então, começar por abordar.

1) Funções motivacionais das atitudes: atitudes e necessidades

A perspectiva de Katz (1960) baseava-se na tentativa de compreender as razões que levam as pessoas a manter as suas atitudes. As razões, no entanto, estão ao nível das motivações psicológicas e não ao nível do acaso de acontecimentos exteriores. A menos que conheçamos as necessidades psicológicas que sustentam uma atitude, estamos em má posição para predizer o quando e como da sua medição (p. 170).
Herek (1986) sistematizou as funções das atitudes em duas grandes categorias:
1. Funções instrumentais ou avaliativas – o indivíduo avalia a situação, custos e benefícios da atitude, e opta pela atitude que permite obter um melhor ajustamento social. Desta forma, maximiza-se as recompensas sociais e, por conseguinte, minimiza-se as punições.

2. Funções simbólicas ou expressivas – o sujeito protege-se contra conflitos internos ou externos, preservando a sua imagem, através da utilização de atitudes como forma de transmitir os valores ou a identidade do sujeito.

2) Funções cognitivas das atitudes: atitudes e processamento da informação

Referente às funções cognitivas das atitudes, poder-se-á referir a forma como elas influenciam o modo a informação é processada. A forma como se organiza a cognição humana tem em conta dois princípios gerais:

1. Princípio do Equilíbrio:
Relativamente à teoria do equilíbrio de Heider (1958 – 1970), poder-se-á referir o ambiente subjectivo do indivíduo (percepção do meio em que vive) que é definido como o princípio organizador das suas atitudes e, consequentemente, das suas mudanças de atitudes.
Heider considera que, sob a forma de tríades de relações, poder-se-á representar as situações sociais.

2. Princípio da Redução da Dissonância Cognitiva:
Relativamente à teoria da redução da dissonância cognitiva de Festinger (1957), esta baseia-se na necessidade de todos os indivíduos encontrarem consonância entre as diversas cognições que têm a respeito de um mesmo objecto. Não se trata, essencialmente, de se estabelecer uma relação entre diferentes atitudes, mas sim que haja a consistência interna dessa atitude. Assim, quando estamos presentes de uma relação entre duas cognições incompatíveis da mesma pessoa face ao mesmo objectivo falamos de dissonância cognitiva.
O princípio básico desta teoria, que tem bases motivacionais, requer que um estado de dissonância cognitiva, psicologicamente desagradável, constitua uma motivação, uma activação do organismo no sentido da redução ou da eliminação dessa dissonância. No entanto, nem todas as cognições que se consideram incompatíveis têm que nos produzir dissonância. É preciso que as cognições sejam percebidas como importantes e que nos vejamos responsáveis pelas situações que nos causam dissonância.
E como sair de um estado desagradável de dissonância? Festinger propõe duas estratégias: aumento do número ou importância das cognições consonantes e/ou a diminuição do número ou importância das cognições dissonantes. Assim, podemos dizer que o processo da redução da dissonância apresenta-se da forma como as atitudes influenciam o processamento da informação, através da procura activa de informação relevante acerca do objecto de atitude.



Quadro 1 – Exposição, Percepção e Memória Selectiva.

3) Funções de orientação para a acção: atitudes e comportamento

O emergir de uma manifestação de tolerância ao nível comportamental e, simultaneamente, de uma expressão de intolerância ao nível atitudinal, reflectindo uma inconsistência entre atitudes e comportamentos, é possível de acontecer!

Segundo Abelson (1972) (cit. Vala, J. e Monteiro, M. B. (2006) «estamos muito bem preparados e somos realmente muito bons a encontrar razões para aquilo que fazemos, mas não somos grande coisa a fazer aquilo para que temos boas razões.» mas tal, segundo a psicologia social da cognição, não poderia ser aceite, não se poderia cortar, de uma forma tão radical, com o pensamento e a acção.

Fishbein e Ajzen (1975) afirmam que as atitudes são importantes factores na precisão do comportamento humano, no entanto, elas distinguem-se entre as atitudes gerais face a um objecto (de forma indirecta, influenciam a previsão do comportamento, isto é, uma tendência para a acção) e as atitudes específicas face a um comportamento relacionado com o objecto de atitude (úteis na previsão de um comportamento específico). Para estes autores, o comportamento representa uma escolha, uma opção onde se pondera um conjunto de alternativas, pelo que o melhor preditor do comportamento será a intenção comportamental. No entanto, a atitude específica é apenas um dos dois factores importantes na decisão, uma vez que o outro factor é a norma subjectiva, que integra as pressões sociais e as pressões dos outros que afectam o nosso comportamento. Assim, entende-se que as “crenças normativas” sociais são o que as entidades pensam sobre qual deverá ser o nosso comportamento em relação a uma determinada situação; as pressões sociais, por sua vez, relacionam-se com a nossa motivação para cursar nessas mesmas crenças normativas.

Se falarmos de variáveis podemos referir, como variáveis directas a atitude específica e a norma subjectiva; e como variáveis indirectas, aquelas que afectam, de forma indirecta, as intenções dos comportamentos – podem ser as atitudes gerais, os traços de personalidade, variáveis sociodemográficas. Todavia, Bentler e Speckart (1979) (cit. por Vala e Monteiro, 2006), ao testar o modelo proposto por Ajzen presenciaram que no comportamento de consumo de drogas, este é melhorado aquando a introdução de uma outra variável – variável externa específica –, nomeadamente, o comportamento anterior do sujeito.

Mas, em 1988, Ajzen, reformula o seu modelo de acção reflectida, introduzindo uma nova influência directa da intenção comportamental (“Controlo Comportamental Percebido”), passando, assim, a ser considerado o Modelo do Comportamento Planeado. Esta nova variável corresponde à dificuldade percebida na realização do comportamento – conceito de auto-eficácia (Bandura, 1977, 1982) (cit. por Vala e Monteiro, 2006), permitindo englobar a experiência anterior no comportamento.

Este segundo modelo, tal como no primeiro modelo teorizado por Ajzen e Fishbein (1980), depreende cruzamentos entre os diferentes constructos. O controlo comportamental percebido é proveniente da multiplicação das “crenças de controlo” e do “poder percebido”.
O pressuposto de seguir determinados comportamentos com base na deliberação racional – Modelo da Acção Reflectida e Modelo do Comportamento Planeado – diz respeito à influência do consciente na tomada de decisão dos indivíduos. Por sua vez, Fazio (1990), sugere que os comportamentos podem não ser somente derivados de tomadas racionais, mas, também, oriundos de processos irracionais/espontâneos – actuação do inconsciente sobre os comportamentos. Assim, O Modelo MODE, “Motivação e Oportunidade como Determinantes de Atitudes e Comportamentos”, de Fazio (1990) baseia-se em técnicas de mensuração implícitas das atitudes – I.A.T, que permitam a detecção, quando o indivíduo é confrontado com o objecto atitudinal, de activações automáticas e inconscientes de afectos e avaliações positivas ou negativas, originando comportamentos de aceitação ou rejeição do objecto atitudinal.
Este autor sustenta que a falta de motivação para raciocinar sobre acontecimentos ou objectos atitudinais faz com que haja uma associação de atributos positivos ou negativos a esses mesmos objectos e acontecimentos, levando a assumir um comportamento de aceitação ou de rejeição.

Mudança de atitudes
Os meios de comunicação social, em especial a televisão (TV), têm um grande impacto na construção de crenças sobre a realidade social (muitas vezes desajustada) e sobre as atitudes sociais dos espectadores, atitudes essas que são fortemente influenciadas.

1) Propaganda e mudança de atitudes
Quer o modelo da acção reflectida, como a teoria da dissonância cognitiva referiam-se à mudança de atitudes. Por sua vez, é na altura da Segunda Guerra Mundial que surge a ideia de que as atitudes podem mudar como resultado de um processo de comunicação, como resultado da consciência de que a máquina de guerra alemã usava os meios de comunicação social como forma de propaganda das ideias nazis. Assim, emerge a seguinte questão: até que ponto as atitudes mudam por exposição a estas mensagens persuasivas? Qual o efeito da contrapropaganda? Como deve ser construída uma mensagem de modo a que leva a uma mudança de atitudes? Como se podem usar os media para construir atitudes?

Lazarsfeld (1940), conduziu um estudo sobre a formação de atitudes em relação aos candidatos presidenciais da eleição de 1940, evidenciando que mais do que a campanha eleitoral dos media, as pessoas utilizavam as conversas que tinham com os amigos de forma a conceber/desenvolver atitudes. Podemos, assim, referir o Modelo das duas etapas (two step flow) sobre os efeitos da comunicação, onde defendiam que os media influenciam primeiro os lideres de opinião, divulgando a mensagem junto dos outros membros do grupo. Mais tarde, este modelo referia que as pessoas expostas aos media vão depois confirmar e validar as suas ideias junto dos lideres de opinião.

2) O modelo de comunicação persuasiva
Uma série de investigadores puderam concluir que o efeito da comunicação persuasiva não é imediato nem tão simples como se poderia julgar no início.

Vários estudos permitiram concluir que comunicadores bonitos, que segundo Clifford e Walster (1973) seriam mais inteligentes, são mais influentes do que comunicadores menos atraentes (Chaiken, 1979); por sua vez, comunicadores semelhantes a nós (Brock, 1965) ou pertencentes ao nosso grupo (Kelly, 1955) também nos influenciam mais do que fontes mais distantes.

No que diz respeito à natureza da comunicação, realça-se a importância dos componentes lógicos e emocionais das mensagens persuasivas. Na experiência de Leventhal et. al, cujo objectivo era induzir os fumadores a deixarem de fumar, estes eram expostos a três condições experimentais ( suscitando “pouco medo”, “medo moderado” e “medo elevado”).

Os investigadores concluíram que os sujeitos expostos à condição “medo elevado” apresentavam uma maior intenção de deixar de fumar, o que denota que mensagens com grande carga emocional são mais persuasivas. Janis e Feshback (1953) mostraram que o apelo ao medo, quando moderado, aumentava a aceitação dos argumentos da fonte. Hovland e Mandell (1952) evidenciaram que a persuasão é maior quando a conclusão é deixada implícita do que quando ela é explicitada, essencialmente em temas simples. O maior poder persuasivo de uma mensagem (Hovland et al., 1949) apresenta-se apenas quando está patente um dos lados da questão, em comparação com mensagens que se apresentam com argumentos para as duas posições em confronto – no entanto, tal apenas se sucede aquando os indivíduos já suportam atitudes favoráveis e baixos níveis de educação.

Assim, tinha-se em conta as características da própria mensagem persuasiva e os atributos da audiência.

O impacto da comunicação dá-se em três fases sucessivas (Hovland, Janis e Kelly, 1953): atenção à mensagem, compreensão do seu conteúdo e aceitação das suas conclusões. Daí que, a mudança de atitudes estivesse dependente dos processos cognitivos atenção, memória e compreensão.


Quadro 2 - McGuire (1968) – Processamento da Informação em 5 Etapas.

De forma a elucidar o quadro anterior recorreremos a um exemplo:

No Parque Mayer, no Teatro Maria Vitória, na revista Piratada à Portuguesa, no II Acto, no número “a técnica de asseio do ar”, podemos observar uma cena onde vários políticos tentam persuadir uma empregada de limpeza a votar neles, para isso, tentaram, um por um, obter a atenção da empregada, desenvolvendo, posteriormente, argumentos que se considerassem adequados às capacidades de compreensão da mulher que tentavam persuadir, de modo, a que esta aceitasse os seus argumentos. Assim, a exposição à mensagem deve ser, então, suficientemente forte para a convencer (o que, neste caso em particular, e na nossa actualidade, não foi o que, obviamente, aconteceu). --> Uma vez que não é possível colocar um vídeo que ilustre esta mesma situação, aconselhamos que assistam à peça em questão.

Outra preocupação da escola de Yale foi estudar os factores de resistência à mudança de atitudes. Assim, Lumesdain e Janis (1953) averiguaram que conseguiam mudar as atitudes dos estudantes universitários expostos a mensagens persuasivas, mas que esta mudança só se mantinha face à posição contrária quando a mensagem inicial incluía argumentos bilaterais. Hovland e tal. (1953) “ (…) O ouvinte é levado a aderir a uma posição que toma em consideração os argumentos contrários, ficando assim inoculado contra comunicações que advoguem uma posição contrária” (p.143). O indivíduo ficava inoculado? Que quer isso dizer? Ora bem, o “efeito de inoculação” refere-se à exposição de mensagens a uma determinada audiência que possui argumentos diferentes/ contrários ao do emissor que por sua vez consegue levar a audiência à imunização de mensagens opostas.

O mesmo autor, juntamente com Papageorgis (1961), mostrou que embora o apoio estabilize a atitude, a inoculação é muito mais eficiente na criação de defesas face à mudança de atitude.

3) Duas vias para a mudança de atitudes
Chaiken (198, 1987) e Petty e Cacioppo (1981, 1986) focam a ideia de que a persuasão nem sempre é o resultado de um longo caminho cognitivo, esforçado e racional, como as etapas identificadas por McGuire sugerem (Quadro 2). De uma forma simplificada, poderemos dizer que nem sempre mudamos de opinião por termos ouvido com atenção os argumentos que nos são dados: verificamos a sua validade, aceitamos a sua posição e retemos a mudança.

Muitas vezes, quando estamos presentes de um tema que não nos suscita grande interesse, acabamos por ser persuadidos simplesmente porque a pessoa que nos está a tentar influenciar é bonita e parece-nos honesta, é persistente, etc. Em situações como esta acabamos por não elaborar cognitivamente as mensagens e, em vez de percorrermos todo o percurso cognitivo desde a atenção à aceitação, optamos por um atalho que nos evita a fase da compreensão e elaboração da mensagem e nos leva directamente para a aceitação. No entanto, achamos que seria pertinente a introdução de uma outra variável: o conformismo. Ou seja, a questão que colocamos é: até que ponto não se aceita uma mensagem simplesmente porque não há vontade, esforço ou argumentos para a contrariar?

Caracterizam-se, assim, dois tipos de processamento cognitivo das mensagens cognitivas: um processamento heurístico (na linguagem de Chaiken, 1980) ou superficial ou periférico (na linguagem de Petty e Cacioppo, 1981) – exige menor envolvimento cognitivo – e um processamento sistemático (na linguagem de Chaiken, 1980) ou central (na linguagem de Petty e Cacioppo, 1981) – envolve a elaboração cognitiva da mensagem, que seguirá mais de perto as etapas previstas nos modelos mais racionalistas da tomada de decisão.

O modelo heurístico sistemático do processamento da informação persuasiva salienta que, em muitas situações de persuasão fazemos avaliações baseadas em regras simples, regras que aprendemos durante a nossa vida e que nos evitam ter de dar muita atenção ao que nos está a ser dito. Por exemplo, «podemos confiar nas afirmações dos especialistas» ou «as estatísticas não mentem» e, uma vez que os números não mentem, faz-se uso de gráficos e estatísticas, precisamente para que a mensagem tenha mais impacto e pareça mais credível. Assim, dispensa-se o processamento do conteúdo da mensagem, de modo a que ela seja rapidamente aceite.

A publicidade faz, então, uso de especialistas (que aparecem frequentemente vestidos de bata branca) levando, como dissemos anteriormente, os indivíduos a aceitarem o conteúdo da mensagem sem grande esforço e sem, muitas vezes, chegarem a questionar-se. Mas, este factor – o do especialista – não aparece isoladamente, ou seja, há que ter em conta a velocidade com que a fonte fala, demonstrando segurança no seu discurso (Erickson e tal., 1978). Ainda a ter em conta é a simpatia da fonte, uma vez que a fonte simpática é sempre mais influente do que a antipática, mas, por sua vez, a saliência da fonte determina a radicalização da mudança de atitudes. Por fim, podemos ainda considerar o tamanho da mensagem, onde grandes listagens de argumentos, na obtenção de um determinado resultado, impressionam a audiência.
Relativamente ao modelo da probabilidade de elaboração (Petty e Cacioppo, 1986), este define dois tipos de processamento da informação: o processamento central – exige uma elevada elaboração da mensagem e, consequentemente, uma avaliação da informação subjacente no objecto tendo em conta os seus conhecimentos acerca do mesmo, de forma a obter, de uma maneira ponderada, mas sem ser obrigatoriamente objectiva, uma atitude que integre a informação obtida – e o processamento periférico – minimiza a informação indagada e a mudança de atitude, que se dá com base em processos cognitivos que exijam fraca elaboração cognitiva –, que se sobrepõem aos dois tipos propostos pelo modelo heurístico. Este modelo salienta que a via periférica para a persuasão recorre a uma menor elaboração cognitiva das mensagens sem recorrer, e sem excluir, ao processamento automático.

Referente a este modelo foquemo-nos no seu conceito principal: elaboração – grau em que a pessoa pensa nos argumentos relevantes existentes na mensagem.

Há que ter em conta que uma mudança de atitude semelhante em dois indivíduos pode ter ser operada por vias completamente diferentes.

Este modelo identifica ainda duas condições básicas que influenciam a probabilidade de elaboração das mensagens persuasivas: capacidade e motivação. Referente à primeira condição (capacidade), podemos dizer que a capacidade dos sujeitos inclui uma série de aspectos: desde a probabilidade de concentração, os conhecimentos ou a capacidade de processamento da informação. Estudos sobre os conhecimentos anteriores dos sujeitos apontam para que quanto maior é o nível de conhecimentos sobre um tema, maior é a discriminação da qualidade dos argumentos e, deste modo, mais a persuasão se encontra dependente de um processamento por via central.

A capacidade cognitiva dos indivíduos e o seu treino ao ler e interpretar a informação técnica, influenciam muito o tipo de processamento da mensagem, sendo, então, as crianças e pessoas com um menor treino técnico, sujeitas a uma baixa elaboração da mensagem.

Investigações têm demonstrado sistematicamente que as atitudes formadas ou mudadas, utilizando um processo sistemático, são mais estáveis e resistentes à mudança e à contra-argumentação sendo, também, mais consistentemente ligadas ao comportamento. Ou seja, atitudes formadas com níveis de elaboração elevados inclinar-se-ão a ter rebatido e incorporado contra-argumentos e, deste modo, teriam inoculado o indivíduo, sendo, simultaneamente, mais acessíveis; por sua vez, atitudes formadas com base numa elaboração cognitiva fraca, através da utilização de heurísticas ou de atributos periféricos à argumentação, são mais instáveis e menos associadas aos comportamentos.
Referente à segunda condição (motivação), esta mostra-se importante por, em especial, três aspectos: 1) ser preciso no julgamento que se faz, sendo o processamento da informação mais elaborado; 2) o tema em análise dever-se-á apresentar relevante para o indivíduo – só com um envolvimento alto é que os sujeitos conseguem diferenciar claramente os bons dos maus argumentos, não se deixando influenciar pelo número de argumentos que são apresentados; 3) nível de automonitorização (importância que a pessoa dá ao que os outros possam pensar) – pessoas com um elevado nível de automonitorização são mais sensíveis a índices heurísticos, ou seja, a publicidade baseada em imagens e emoções, do que indivíduos com um nível baixo de automonitorização (Snyder e DeBono, 1985).

Concluindo, será importante dizer que, segundo os autores, nem todos os indivíduos têm a mesma motivação para a realização de tarefas de reflexão intelectual, existindo indivíduos que tem uma maior “necessidade cognitiva” prestando por isso uma maior atenção aos argumentos apresentados e outros com uma menor “necessidade de cognição” analisando as mensagens persuasivas de uma forma mais superficial.



Vídeo 1: face a este excerto, retirado da novela emitida na SIC ‘Caminho das Índias’, o que queremos demonstrar é que quando criamos uma atitude em relação a determinada pessoa temos que ter em conta as suas idiossincrasias. Porém, o que, por vezes, acaba por acontecer é esquecermo-nos das características peculiares de cada indivíduo e, por isso, acabamos por ter uma visão limitada, uma vez que só temos em conta aquilo que os nossos olhos conseguem ver/alcançar.

EXERCÍCIOS (1):

1) As atitudes são…

a) Ondas sonoras
b) Comportamentos
c) Conjunto de frutos tropicais
d) Predisposições para se adoptarem comportamentos

2) As atitudes são passíveis de serem medidas. Assim, medimo-las:

a) Com o termómetro
b) Com a disposição do sol
c) Através de escalas (e.g. escala de Gutman, escala de Osgood …)
d) Nenhuma das opções anteriores

3) O Princípio do Equilíbrio...

a) Só é aplicado a pessoas que fizeram ballet
b) Ensina-nos a equilibrar o corpo e a mente
c) As situações sociais podem-se representar através de tríades de relações
d) É uma teoria de Festinger

4) O princípio da Redução da Dissonância cognitiva...

a) Apresenta-se da forma como as atitudes influenciam o processamento da informação, através da procura activa de informação relevante acerca do objecto de atitude
b) É usado em substituição ao Raio-X
c) É uma teoria de Heider
d) A alínea a) e c) estão correctas

soluções: 1) d ; 2) c ; 3) c ; 4) a.

Publicado por Pereira & Mota, 2009

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